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Chico Buarque: álbuns dos anos 1970 são relançados em vinil

‘Meus Caros Amigos’ e ‘Chico Buarque’ são alguns dos grandes trabalhos do lendário cantor

Chico Buarque: álbuns dos anos 1970 são relançados em vinil
Foto: Leo Aversa

Com texto de Pedro Só

Em homenagem a Chico Buarque, a Universal Music apresentou nesta quarta-feira (19) a reedição em vinil de dois importantes álbuns da discografia do cantor e compositor: Meus Caros Amigos (1976) e Chico Buarque (1978). Os dois lançamentos integram uma série que reúne quatro icônicos álbuns do artista, que serão apresentados ao longo deste ano.

O primeiro deles foi Vida (1980), disponibilizado em 20 abril na Umusic Store, plataforma de e-commerce da companhia. Em breve, será lançado Chico Buarque de Hollanda Nº4 (1970), que fecha essa série especial.

Chico Buarque: álbuns dos anos 1970 são relançados em vinil

Foto: Universal Music / Philips

Chico Buarque também é o homenageado do mês no Clube do Vinil, que em junho disponibiliza o magistral disco Almanaque (1981).

Meus Caros Amigos é daqueles casos raros de obra-prima que também foi sucesso popular: lançado em novembro de 1976, vendeu mais de 300 mil cópias em vinil, sendo 100 mil na primeira semana.

O repertório contou com um vento favorável importante: uma penca de canções finalmente liberadas pela Censura, quase todas escritas para trilhas de teatro e cinema.

A produção represada aflora em dez faixas preciosamente concisas, que somam 34 minutos hoje cravados na memória de várias gerações. As letras de Chico dão recados afiados de forma engenhosa (como no samba metalinguístico Corrente), sensível e bem humorada, mas a produção dirigida por Sérgio Carvalho encontra a coesão da obra na contribuição musical de Francis Hime, que cria arranjos magistrais, fundados no samba-choro e em seus conhecimentos de música de concerto.

Francis também surge como novo parceiro de Chico em três grandes canções do lado B: A Noiva da Cidade, a exuberante Passaredo e a genial Meu Caro Amigo, com um timaço de músicos do choro reunido (Dino 7 Cordas, Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Joel Nascimento) para mandar ao amigo exilado Augusto Boal uma crônica daqueles tempos de chumbo e recessão.

O Que Será (À Flor da Terra), composta para o blockbuster Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, puxou o disco nas rádios: é um “cubaião” — como Chico apelidou o híbrido de baião e són cubano — com as vozes de Chico e um Milton Nascimento em estado sobrenatural.

Outro grande hit na época foi Vai Trabalhar, Vagabundo, uma explosão de alegria inspirada pelo malandro vivido por Hugo Carvana no filme homônimo, de 1974. A letra, porém, é uma advertência ao personagem, mais uma peça da fina ironia de Chico.

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As metáforas políticas seguem na clássica e dissimulada (expressa o oposto do que a letra afirma) Mulheres de Atenas, parceria com Boal para uma peça nunca montada (Lisa, a mulher libertadora), baseada em comédias gregas protofeministas. É o primeiro arranjo completo que o violonista Luiz Claudio Ramos fez para Chico, com expressivas intervenções orquestrais.

Também não falta lirismo rasga-coração: Olhos nos Olhos, escrita por encomenda para Bethânia, é abrilhantada pela decisão de Chico de gravar mantendo a letra no feminino.

Clássico instantâneo da discografia de Chico, o álbum Chico Buarque chegou às lojas em novembro de 1978 já como sucesso: os 30 mil exemplares encomendados antecipadamente logo se multiplicaram e, em 1980, a revista Manchete noticiou vendagem de mais de 700 mil.

A capa resume: Chico Buarque sorrindo, sem o contraponto do famoso meme. Sem bigode, em um LP sem título (conhecido também como “disco da samambaia”, por causa da planta ao fundo do retrato), com um repertório que, na época, o próprio Chico definiu como “uma salada de frutas”.

A anistia viria somente em 1979, mas a faixa 1, o antológico samba Feijoada Completa, composto para animar uma cena de festa do filme Se Segura, Malandro, de Hugo Carvana, prenuncia a descompressão e o retorno dos exilados políticos. O arranjo de Francis Hime tira o melhor de um dream team de músicos, com espaço para solos de Raul de Barros, Márcio Montarroyos e Jorginho da Flauta.

Chico considera que, a partir deste LP, sua música “respira melhor”, menos oprimida pela censura. Três belíssimas canções finalmente liberadas engrossam, sem perder a ternura, o caldo politizado: Tanto Mar, feita para a Revolução dos Cravos, em Portugal, o sambão Apesar de Você, que já havia sido lançado em 1970 — e recolhido pela ditadura, depois de três meses de sucesso —, e Cálice, a mais importante delas.

A parceria com Gilberto Gil aparece em sua forma definitiva de hino de geração, no arranjo épico de Magro, do MPB-4, e cantada em dueto com Milton Nascimento.

Três outras maravilhas, escritas para o musical Ópera do Malandro, têm sua primeira gravação, meses após a estreia nos palcos: O Meu Amor, dueto/duelo entre Elba Ramalho e Marieta Severo, a genial Homenagem ao Malandro, com outro arranjo muito feliz de Magro, e Pedaço de Mim, confluência com o assombro sobrenatural da voz de Zizi Possi e a musicalidade divina de Milton Nascimento (autor do arranjo).

A isso somam-se duas parcerias de Chico com Francis Hime que servem para exemplificar em letra, melodia, arranjo e interpretação a genialidade desse encontro: Trocando em Miúdos e Pivete.

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E ainda há espaço para Chico mostrar versatilidade. Como intérprete, em Pequeña Serenata Diurna, do cubano Silvio Rodríguez, e, como Chico Buarque sorridente, em Até o Fim, que definiu como “uma música de curtição no estúdio”, em que se permitiu gravar o próprio violão e esparramar autoironia — um Chico Buarque rindo de si mesmo.

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